Deglutição – O Ato Final da Harmonia Bucal: A Importância de Engolir Perfeitamente

Pense em quantas vezes você engole por dia. É um ato tão natural e automático que raramente o notamos. No entanto, a deglutição – o ato de engolir – é o ato final da harmonia bucal, o momento em que todo o trabalho de mastigação e salivação é concluído. Quando a deglutição ocorre de forma fisiologicamente perfeita, ela é a prova de que a sua orquestra bucal está afinada. Mas quando ela é disfuncional, o ato que deveria ser suave e sem esforço se torna uma fonte de problemas que impactam a postura, a via aérea e até a digestão.

A Deglutição Perfeita: Uma Coreografia de Músculos

A deglutição não é um ato de “cair” pela garganta; é uma complexa coreografia de cerca de 50 pares de músculos, coordenada por seis nervos cranianos e pelo sistema nervoso central. A deglutição perfeita ocorre em duas fases principais:

  1. Fase Oral: A língua, em sua posição ideal no céu da boca, trabalha como um pistão. Ela empurra o bolo alimentar, já bem processado, para trás, em direção à garganta. Para isso, a boca deve estar completamente fechada. A ponta da língua deve se apoiar no céu da boca, ligeiramente atrás dos dentes da frente, para criar a pressão necessária para o movimento.
  2. Fase Faríngea: Este é o momento do “ponto sem retorno”. O bolo alimentar passa da boca para a faringe, e um reflexo automático fecha a via aérea para que o alimento não entre nos pulmões.

A deglutição perfeita é um ato de coordenação e pressão, onde a língua no palato é a força motriz.

A Deglutição Disfuncional: Quando a Coreografia Falha

A deglutição atípica ou disfuncional ocorre quando a língua não está em sua posição correta ou quando há um padrão de movimento incorreto ao engolir. Isso é extremamente comum em respiradores bucais, cuja língua se acostumou a ficar no assoalho da boca para permitir a passagem do ar.

Em vez de se apoiar no palato, a língua se projeta para a frente ou para os lados para ajudar a empurrar o bolo alimentar. As consequências são sérias e visíveis:

  • Problemas Ortodônticos: A pressão constante da língua empurrando os dentes da frente pode causar mordida aberta anterior (quando há um espaço entre os dentes de cima e os de baixo mesmo com a boca fechada) ou agravar o apinhamento dos dentes.
  • Problemas Posturais: A deglutição é um ato que aciona a musculatura do pescoço e da face. Quando ela é disfuncional, os músculos que deveriam estar relaxados ficam tensos, contribuindo para a postura de cabeça anteriorizada e dores crônicas no pescoço e ombros.
  • Problemas na Fala: O mau posicionamento da língua pode causar dificuldades na articulação de alguns fonemas, levando a vícios na fala.
  • Impacto na Via Aérea: Uma deglutição com a língua no assoalho bucal pode não gerar a pressão negativa necessária na faringe para manter a via aérea aberta, podendo contribuir para o ronco e a apneia.
  • Sobrecarga da Musculatura da Face: Os músculos da bochecha e do queixo se contraem de forma excessiva para auxiliar a deglutição, causando tensões musculares na face.

A boa notícia é que, assim como a língua, a deglutição também pode ser reeducada. A reabilitação da respiração nasal é o primeiro passo, pois ela devolve a língua à sua posição correta no palato, permitindo que a deglutição volte ao seu padrão fisiológico perfeito.


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